A Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) participou de uma aula magna na Universidade Carlos III de Madrid, destinada a estudantes do curso de Mestrado em Ação Solidária Internacional e Inclusão Social. A atividade foi organizada pelo professor Diego Batistessa, com articulação conjunta entre a COSPE e a CONAQ.
O encontro aconteceu na manhã desta segunda-feira (06) e contou com a presença de Maria Aparecida Ribeiro de Sousa, conhecida como Cida Sousa, coordenadora do Coletivo de Mulheres da CONAQ e coordenadora da Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Tocantins (COEQTO); José Maximino, coordenador de Núcleo do Resistência Quilombola e coordenador nacional da Conaq; Nathalia Purificação, comunicadora do Resistência Quilombola e Martina Molinu, coordenadora do projeto e responsável pela Cospe no Brasil. A delegação que apresentou dados e reflexões do Projeto Resistência Quilombola, também apresentou a CONAQ e a luta dos quilombos no Brasil.
Durante o painel, Cida Sousa introduziu o tema dos quilombos e das comunidades quilombolas no Brasil, explicando o contexto histórico, o papel da CONAQ e a importância da luta pela titulação dos territórios. Segundo a coordenadora, muitos dos participantes desconheciam o significado e a realidade vivida pelas comunidades quilombolas, o que tornou a atividade uma oportunidade valiosa de sensibilização e diálogo.
“Foi uma experiência muito enriquecedora. Trouxemos a realidade dos quilombos para uma turma que não conhecia a existência dos quilombolas no Brasil. Os alunos ficaram curiosos, participativos e interessados em entender como funcionam as organizações quilombolas e quais são nossas principais lutas e demandas”, afirmou Cida Sousa.

Dados do Projeto Resistência Quilombola
Durante a aula magna, foi apresentado estudo da CONAQ que reúne dados coletados entre 2019 e 2024 sobre assassinatos e ameaças a defensores e defensoras de direitos humanos quilombolas. De acordo com o levantamento, 67% das vítimas de assassinatos são homens. Contudo, os crimes cometidos contra mulheres quilombolas apresentam maior grau de crueldade. Apesar de não serem a maioria entre as vítimas fatais, as mulheres são as mais afetadas por ameaças. Entre 2021 e 2023, a CONAQ registrou 33 casos de ameaças e ataques contra mulheres quilombolas defensoras de direitos humanos. O estudo está disponível no site da CONAQ, acesse aqui.
“As mulheres estão na linha de frente da defesa dos territórios. A nossa organização, dentro da CONAQ, reflete a estrutura dos quilombos, em sua maioria as lideranças femininas. Durante a palestra, os alunos fizeram bastante perguntas sobre como é ser uma mulher quilombola na luta por direitos, bem como outros questionamentos pertinentes que enriqueceram o debate e essa troca de experiência”, destacou Cida.
Homenagens e reflexões
Durante o painel, foram relembrados casos emblemáticos, como os de Mãe Bernadete Pacífico e seu filho Binho do Quilombo, símbolos da resistência quilombola e vítimas da violência e da impunidade.
A palestra foi encerrada com um chamado à reflexão sobre o preço da luta pela titulação dos territórios quilombolas:
“Será que a titulação dos nossos territórios precisa custar nossas vidas? Será que só alcançaremos justiça sob essas condições? Não trazemos respostas — trazemos uma inquietação que nos move a seguir lutando”, finalizou Cida Sousa.

